quarta-feira, 18 de julho de 2007

Origem


"Anestesiei-me, dissolvi-me por algum tempo nos 'Demônios'. Quando voltei, não quis ler mais nada por algum tempo, porque tinha certeza de que mergulharia em enorme decepção, em um terrível abismo. Recusei-me durante semanas a qualquer leitura. A enormidade dos 'Demônios' me fortalecera, mostrara um caminho, me dissera que eu estava no caminho certo: para fora. Tinha sido afetado por uma literatura selvagem e grande, e dela emergi eu próprio como herói".

terça-feira, 17 de julho de 2007

Alter Meister


"Eu nunca li um livro inteiro em toda a minha vida, a minha maneira de ler é a de um folheador altamente talentoso, portanto, de um homem que prefere folhear a ler, que, portanto, costuma folhear dúzias, em determinadas circunstâncias centenas de páginas, antes de ler uma única que seja; mas quando esse homem lê uma página, ele o faz tão a fundo como ninguém e com a maior paixão pela leitura que se possa pensar. Eu sou mais folheador do que leitor, isso o senhor tem de saber, milhões de vezes mais folheei do que li em minha vida, mas sempre, ao folhear, tive ao menos tanta alegria e efetivo prazer intelectual quanto à leitura. Em suma, na verdade é melhor a gente ler tão-somente três das quatrocentas páginas de um livro, mil vezes mais minuciosamente do que o leitor normal, que tudo lê, mas nem uma única página em profundidade, ele disse. Na verdade, de um livro é melhor que se leiam doze linhas com a máxima intensidade e, desse modo, ganhar acesso ao todo, como se poderia dizer, do que lermos o livro inteiro como o leitor normal, que ao fim e ao cabo conhece o livro lido exatamente tão pouco quanto um passageiro de avião a paisagem que ele sobrevoa. Ele, na verdade, nem sequer chega a perceber os contornos. Assim, é de revôo que as pessoas lêem hoje tudo, todas; elas lêem tudo e não sabem nada."

Thomas Bernhard, Alter Meister